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Sofrendo pra fotografar paisagens? Conheça o HDR

Ou o céu tá muito claro ou as montanhas muito escuras? Aprenda agora a fazer fotos fantásticas que imitam o alcance da visão humana.


Cânion das Laranjeiras em Urubici - SC | Fotografia por Gabriel Juan
Cânion das Laranjeiras em Urubici - SC | Fotografia por Gabriel Juan


QUEM NUNCA SE FRUSTROU?


Todo mundo já fotografou ou ainda vai fotografar uma paisagem na vida, seja em alguma ocasião muito especial como uma viagem em família pra conhecer o interior do país, num passeio de fim-de-semana no parque ou enquanto olha o pôr-do-sol pela janela do ônibus, voltando pra casa depois do trabalho. De alguma forma a gente se encanta por aquela cena que observamos e, graças aos nossos smartphones, temos a ferramenta perfeita e acessível pra registrar - e compartilhar - nosso ponto de vista daquele instante.


E o quão rápido apontamos a câmera do telefone para a cena, tão rápido nos atinge a dolorosa frustração: alguma parte da foto sempre está muito escura ou muito clara, mesmo que consigamos ver claramente o que está escondido nessas áreas com nossos próprios olhos. A insistência não para: se viramos a câmera pro alto, o céu fica lindo, enquanto as montanhas, os prédios, tudo o que mais estiver abaixo da linha do horizonte, fica escuro, vira uma silhueta de formas que nem dá pra reconhecer direito.



O ceú está perfeito, mas não dá pra enxergar as árvores... | Gabriel Juan Fotografia
O ceú está perfeito, mas não dá pra enxergar as árvores...

Pra tentar salvar o chão, estragamos o céu: quando apontamos a câmera pra baixo e surge um problema no lugar do outro: o céu se embranquece tanto que já não dá mais pra diferenciar o sol das nuvens, dos pássaros, de tudo o que houver por lá.


Agora eu vejo as araucárias perfeitamente, mas o céu ficou branco... | Gabriel Juan Fotografia
Agora eu vejo as araucárias perfeitamente, mas o céu ficou branco...

No fim das contas: ou desistimos do clique, desapontados com nosso celular, ou cedemos à alguma das partes, escolhendo na base do ódio qual delas merece ficar no breu ou na claridade estourada. Alguns vão além e tiram duas fotos, só pra não assumir a derrota contra a ótica desgraçada que acabou com a foto dos seus sonhos. Mas por que raios isso acontece?



É QUE A CÂMERA NÃO DÁ CONTA


Os sensores que estão dentro das nossas câmeras - e das câmeras dos nossos celulares - estão preparados pra receber os raios de luz que os objetos refletem de forma diferente dos nossos olhos.


Dentro da fotografia, dizemos que a visão humana possui um grande alcance dinâmico, ou seja: ao olharmos pra um mesmo ambiente que tem extremos de sombras escuras e picos claros, conseguimos num só olhar distinguir detalhes em todas essas regiões, não importa a diferença de luz que haja entre elas. Por outro lado, o sensor da câmera precisa a todo momento fotometrar algum ponto, no ambiente, pra se tornar sua referência de luz: tudo mais brilhante que esse ponto vai se superexpondo até o limite do branco puro, (na paleta hexadecimal mostrado como #FFFFFF) e tudo o que for mais escuro vai se subexpondo até o limite do preto puro (na paleta hexadecimal mostrado como #000000).


Então, quando estamos em situações onde a diferença entre os extremos de sombra e realces de luz são baixos, as câmeras costumam se dar muito bem em capturar todas as cores e luzes da foto de forma bem fiel à visão humana, como nessa foto abaixo:


Nesta foto há pouca diferença entre sombras e luzes, então a câmera se dá bem! | Gabriel Juan Fotografia
Nesta foto há pouca diferença entre sombras e luzes, então a câmera se dá bem!

Por outro lado, quando fotografamos situações com muito contraste, caímos no velho problema de ter que decidir pelo caminho menos pior, e nunca satisfatório: quem nunca fotografou o interior de uma casa com as janelas abertas e as janelas viraram um bando de buracos de luz estourada branca?


Holambra - SP | Fotografia por Gabriel Juan
Holambra - SP | Fotografia por Gabriel Juan

Ou quando pedimos pra vó tirar aquela foto linda nossa em frente ao nascer do sol na praia: é oito ou oitenta, ou você vira uma silhoueta irreconhecivel (igual todos os outros netos) ou você aparece sozinho ou sozinha no meio de um mar de luz.


Toda foto no nascer do sol é a mesma coisa. O mar ta lindo, mas quem é esse povo? | Gabriel Juan Fotografia
Toda foto no nascer do sol é a mesma coisa. O mar ta lindo, mas quem é esse povo?
Raíssa, Camila e Luiz estão lindos, mas o mar virou farinha de trigo? | Gabriel Juan Fotografia
Raíssa, Camila e Luiz estão lindos, mas o mar virou farinha de trigo?

E agora, José? Estamos condenados à uma vida de sofrimento?



E DEUS DISSE: “QUE HAJA LUZ… NA MEDIDA CERTA!”


Surge então, pra resolver de vez esse problema, uma técnica chamada HDR, que é uma sigla em inglês para Alto Alcance Dinâmico (High Dynamic Range).


A ideia consiste em tirar várias fotos da mesma cena (pelo menos 2 fotos) com exposições diferentes, pra depois mesclar todas elas em uma só dentro de algum programa de edição.


Quando eu digo “tirar fotos com exposições diferentes” eu digo que, mantendo a foto com o mesmo enquadramento e o aparelho bem fixo - pra que não haja diferença entre as fotos - você captura, digamos, 5 fotos da mesma paisagem, em sequência: uma foto muito escura, outra pouco escura, outra média, outra um pouco clara e por último uma foto muito mais clara que as demais.


Fazendo isso, você reúne uma série de informações luminosas que um clique só não daria conta de absorver: suas fotos mais escuras vão revelar bons detalhes das áreas mais claras da foto, enquanto as fotos mais iluminadas vão deixar aparecer os detalhes que estavam escondidos no escuro. Veja só:


A mesma foto, só que com exposições diferentes | Fonte: Best Online Photography School
A mesma foto, só que com exposições diferentes | Fonte: Best Online Photography School

Depois das fotos capturadas, é hora de juntá-las, mas que tipo de programa faz isso? Vários! Vou mostrar três deles logo abaixo, pra que você possa alcançar bons resultados com seu celular (seja iPhone ou Android) e resultados ainda melhores com seu computador (usando o Adobe Lightroom).


Antes de mais nada, é importante que você se lembre de manter sua câmera ou seu celular bem estável no momento dos cliques, e não fotografar objetos em movimento porque a mesclagem de fotos com enquadramentos um pouco diferentes pode criar “fantasmas” na sua foto final: chamamos de fantasmas esses contornos bizarros que os objetos assumem dentro das fotos HDR quando durante os cliques sua câmera ficou em movimento.


Veja os fantasmas dos carros na estrada | Fonte: paulstamatiou.com
Veja os fantasmas dos carros na estrada | Fonte: paulstamatiou.com


JÁ REPAROU QUE ELE ESTEVE LÁ O TEMPO TODO?


Se você procurar no aplicativo de fábrica da câmera do seu celular, você provavelmente vai encontrar, em algum cantinho, a opção de fazer fotos em HDR. É a mesma coisa?

Sim e não.


‘Sim’ porque o processo de captura dessa imagem realmente é feito do jeito que acabamos de aprender, só que é feito todo de uma vez, nos “bastidores”: seu celular tira uma sequência de provavelmente 3 ou 5 fotos - sem que você perceba - e faz um processamento das cores pra gerar na sua galeria uma foto com sombras mais leves e realces mais moderados. Se você concluir que esse processo automático já é suficiente pra atender suas expectativas, você pode parar por aqui e já começar a ser feliz, sempre lembrando de manter seu celular bem quietinho durante a captura/processamento das fotos e evitar fotografar objetos em movimento, pra não ser assombrado por fantasmas mais tarde.


E ‘não’ porque justamente por ser um processo automático e programado, você exerce pouco ou quase nenhum controle sobre sua foto final, e não consegue inserir a quantidade de fotos desejada pra construir a foto do seu jeito, como vamos conhecer logo abaixo, nos próximos tópicos.




SE VOCÊ TEM ANDROID, USE O APP VIBRANCE HDR


Procurando pela Google Play Store, encontrei um monte de aplicativos que continham HDR no nome mas de HDR mesmo não tinham nada: o que eles fazem é inserir em uma foto só efeitos forçados nas sombras e na nitidez pra causar uma sensação de alcance de luz amplo, quando na verdade é puro filtro. Fuja deles, não vale a pena o download.


Um dos poucos que cumpriu o que prometia é o Vibrance HDR. Clique aqui pra fazer o download dele. Ele é gratuito e super simples de usar, veja só:



Tela inicial do app Vibrance HDR.
Tela inicial do app Vibrance HDR.

Essa é a tela inicial do Vibrance HDR, antes de fazer sua primeira foto eu recomendo que vá em SETTINGS e aumente a qualidade do arquivo final em IMAGE FORMAT AND QUALITY para JPEG 100%.


Selecione duas ou três fotos para mesclar.
Selecione duas ou três fotos para mesclar.

Clicando tanto em OPEN PHOTOS quanto em RECENT PHOTOS, você pode procurar pelas fotos que você já fez e estão na galeria do celular. Ele suporta um limite de três fotos então já se planeje fotografando uma foto normal, como referência, uma mais escura e outra mais clara.


OBS: Cuidado ao fotografar pessoas! Mesmo bem estáticas elas podem se mover e criar fantasmas na foto,
OBS: Cuidado ao fotografar pessoas! Mesmo bem estáticas elas podem se mover e criar fantasmas na foto,

Na tela de edição você já vê sua foto pronta, como resultado da junção das três fotos que você acabou de escolher. Se já estiver satisfeito(a), é só clicar no disquetezinho ali em cima pra salvar na sua galeria. Antes de salvar você também pode mexer em alguns controles de exposição, saturação, temperatura ou nitidez, que ficam na parte de baixo da foto. Pra conferir o antes e depois é só clicar no botão AB, lá no canto direito em cima, do lado do botão de salvar.



SE VOCÊ TEM IPHONE, USE O APP TRUE HDR


No caso do iOS, o aplicativo que encontrei que também mais cumpre o que promete na descrição é o True HDR: ele custa R$7,90. Pra baixar ele no seu iPhone ou iPad, é só clicar aqui.



Tela inicial do True HDR | Fonte: App Store
Tela inicial do True HDR | Fonte: App Store

Essa é a tela inicial do True HDR, os primeiros três botões te levam pra fazer as fotos pelo próprio App. Assim como o Vibrance HDR, ele suporta uma junção de apenas 3 fotos. O último botão permite escolher fotos que você já tenha feito anteriormente e estejam no Rolo da Câmera.



Tela de visualização da foto pronta. | Fonte: App Store
Tela de visualização da foto pronta. | Fonte: App Store

Com a foto pronta, nele também é possível adicionar alguns filtros criativos antes de salvar. Quando estiver tudo pronto, só clicar em SAVE, no canto superior direito.



ADOBE LIGHTROOM: CONSIGA UM RESULTADO EXCELENTE


Deixei por último a ferramenta mais completa e que entrega o melhor resultado. O Lightroom é um programa feito pela Adobe, a mesma que desenvolve o famoso Photoshop, dentre outros programas de criação gráfica. Apesar de existir o app do Lightroom para celular, somente a versão para computador (PC ou MAC) é capaz de construir panoramas com as fotos importadas.


O Lightroom, por ser uma ferramenta profissional, é paga. Você pode procurar no site da Adobe pelo plano que melhor se encaixa com você (estudantes e professores têm desconto na assinatura) e também pode fazer uma avaliação gratuita de 7 dias pra conferir se vale a pena a compra no seu caso ou não.


Primeiramente, descarregue no seu computador as fotos feitas pelo seu celular ou pela sua câmera. A vantagem do Lightroom é que ele não tem limite de fotos pra mesclar o HDR, então quanto mais variações luminosas de fotos você fizer, melhor vai ficar o resultado final! Com as fotos em mãos, abra o Lightroom e importe as fotos para sua Biblioteca, como mostro no print abaixo:


Biblioteca do Lightroom com as fotos importadas.
Biblioteca do Lightroom com as fotos importadas.

Selecione todas as fotos segurando o CRTL, no teclado e clicando em cada uma delas (ou dando um CRTL + A). Quando todas estiverem selecionadas, clique com o botão direito em alguma delas e vá em MESCLAR FOTO > HDR (ou dê um CTRL + H).


Sequência de ações para mesclar as fotos selecionadas.
Sequência de ações para mesclar as fotos selecionadas.

Na janela de visualização, você pode ativar ou desativar as funções de ALINHAR AUTOMATICAMENTE (que corrige os pequenos movimentos que você possa ter feito entre uma foto e outra) e TOM AUTOMÁTICO, que corrige as cores da foto final automaticamente. Regule a intensidade do DEGHOST pra corrigir eventuais fantasmas na foto, dependendo da intensidade deles. Depois de tudo pronto, clique em MESCLAR e aguarde a renderização da foto.


Janela de Pré-Visualização do HDR
Janela de Pré-Visualização do HDR

Depois que a foto estiver pronta, é possível fazer alguns ajustes dentro da aba de REVELAÇÃO. Irei explicar mais sobre cada um deles em outros posts, no futuro. Quando o resultado já estiver satisfatório, selecione apenas a foto HDR gerada na BIBLIOTECA e clique no botão EXPORTAR, no canto inferior esquerdo (ou dê um CRTL + SHIFT + E). Na tela de exportação, defina as configurações da forma que achar mais conveniente e clique em EXPORTAR.


Cachoeira de Minas - MG | Fotografia por Gabriel Juan
Cachoeira de Minas - MG | Fotografia por Gabriel Juan

É isto! Sua foto está pronta.


CONCLUSÕES E DICAS


Depois que compreendemos que é possível criar fotos com uma faixa de percepção de luz, sombra e cores bem parecida com a da visão humana, não dá pra negar que surge uma pergunta na nossa mente: por que não usar HDR pra tudo, então?


A resposta, na minha opinião, parte de dois vieses: um viés situacional e um viés artístico.


A questão situacional é que nem todos os momentos são propícios para a produção de uma foto dessa forma, vide fotografias em que o movimento dos objetos que estão dentro do quadro é intenso e rápido, tornando praticamente impossível criar uma sequência de 3 ou mais fotografias semelhantes pra mesclar depois. Fazer fotos noturnas também é um empecilho pra quem for fazer um HDR, porque à noite sempre dá pra fazer fotos mais escuras, mas poucas vezes dá pra fazer fotos mais claras.


Fotos esportivas, por serem cliques rápidos, não podem ser feitas em HDR. | Foto: pedal.com.br
Fotos esportivas, por serem cliques rápidos, não podem ser feitas em HDR. | Foto: pedal.com.br

Finalmente, a questão artística, que também é muito importante: o HDR, assim como qualquer outra manifestação/ferramenta visual, é mais uma forma entre muitas de representar o mundo. Eu acredito muito na fotografia como uma ferramenta de registro, no sentido bem histórico e jornalístico da palavra, mas acredito ainda mais no poder narrativo de construir uma imagem, contando uma história ou criando significados.


Se eu quisesse, por exemplo, enfatizar drama e hostilidade numa fotografia, ela não combinaria quase nada com sombras clarinhas e realces mais brandos, típicos do HDR: essa foto precisaria ter sombras escuras e bem demarcadas, gerando um contraste marcante e perturbador.


Se estiver com dificuldade de pensar nesses conceitos dentro da fotografia, observe essas duas pinturas feitas em vanguardas artísticas diferentes (Impressionismo e Barroco) e reflita sobre qual parece mais com uma fotografia HDR e qual não.

Vá além: qual delas é mais pacata e qual delas é mais dramática?


Faça esse exercício sempre que puder, em outras imagens (e pinturas também).

O Passeio - Claude Monet (1875) | Óleo sobre tela
O Passeio - Claude Monet (1875) | Óleo sobre tela
São Mateus e o Anjo - Caravaggio (1602) | Óleo sobre tela
São Mateus e o Anjo - Caravaggio (1602) | Óleo sobre tela

Obrigado por me acompanhar até aqui nesse texto. Repasse essas dicas pra um(a) amigo(a) próximo(a) e treine seu olhar sempre que puder! Quando fizer suas próprias fotos, posta e me marca lá no Instagram @gabrieljuanfotografia, vou adorar ver seus resultados!


Beijos e até a próxima!


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